sexta-feira, 25 de junho de 2010

Entre aspas

Com Raphael Penteado


É formado em Economia e Ciências Políticas pela Washington & Lee University nos EUA e trabalha com consultoria de marketing pela Marketing Boutique em São Paulo.

Em entrevista para a revista do meu grupo na faculdade, Raphael fala a respeito do Governo Lula.

Principais mudanças

Os fundamentos da economia brasileira são os mesmos desde 1999, muito antes do governo Lula. Aliás, um dos elogios que mais se faz ao governo Lula é exatamente o de ter mantido as políticas econômicas do governo anterior. Em 1999, o governo FHC foi forçado a flexibilizar a política monetária, criando a política de bandas e depois a política de metas de inflação para o Banco Central. Isso permitiu uma desvalorização controlada do Real, barateando os produtos brasileiros (principalmente os agrícolas), o que impulsionou o crescimento do Brasil. A lei de responsabilidade fiscal também foi crucial, pois, permitiu que o governo controlasse a dívida pública e deu credibilidade ao Brasil para conseguir financiamento mais barato lá fora. Esse foi um dos grandes motivos da melhora na avaliação das agências credoras sobre o Brasil e a redução do “Risco Brasil”.

Mas houve sim um aumento na renda do brasileiro. Por quê? Porque a oposição passou aumentos sucessivos do salário mínimo. A estratégia da oposição era forçar o presidente Lula a vetar os aumentos do mínimo para não por em risco as contas da união. O tiro saiu pela culatra. Embora o governo tenha feito pressão no Congresso para derrubar os aumentos, Lula não usou o veto. Assim, o ganho do brasileiro aumentou e Lula foi reeleito. Com isso, a dívida pública aumentou quase 80% durante os 8 anos do governo Lula. Vai ser um abacaxi e tanto que ele vai deixar para o próximo governo.

Heranças do Governo Lula

Uma das principais heranças que o Lula nos deixará é a credibilidade do Brasil lá fora. O Brasil está demonstrando que é um país sério. Não importa quem esteja no governo, estamos comprometidos com a estabilidade e - trabalhando para continuar um ciclo de crescimento sustentado. Sem surpresas e nem milagres. Ao mesmo tempo, Lula vai deixar uma máquina administrativa inchada e uma dívida pública alta. Por enquanto nos saímos bem. Mas o que ocorreu com países como a Grécia, Portugal, Itália, Espanha, entre outros, deveria nos servir de aviso. Se não conseguirmos manter a credibilidade de que conseguiremos pagar as nossas dívidas, o clima de otimismo pode virar, principalmente em um ambiente tão incerto como o de hoje. Não podemos correr esse risco.

Prioridades para o próximo governo

Os fundamentos da economia não podem mudar de forma alguma. Aliás, precisamos trabalhar para continuar as reformas. O Brasil, durante o governo Lula, não fez o dever de casa. Precisamos da reforma da previdência para ontem. O pior é que o Congresso foi na contramão e acabou de passar o fim do fator previdenciário. Se confirmado, isso vai piorar ainda mais a situação das finanças públicas. São tantas as reformas... a política, a judiciária, a fiscal. O Brasil fez o trabalho pela metade. As coisas já melhoraram bastante, mas precisamos fazer mais para assegurar que as melhoras sejam permanentes. O mundo ainda é um lugar de muitas incertezas. Se não nos esforçarmos agora, a longo prazo estaremos colocando esses ganhos em risco. Isso tem que ser um esforço não só do próximo governo, mas também do Congresso. E deveria ser a pauta do debate político desse ano; a sociedade precisa participar desse diálogo.

Popularidade de Lula

O povo vai eleger o próximo presidente do Brasil, e o Lula não é candidato. Eles terão que escolher entre a Dilma e o Serra. O Lula pode apoiar e dar a sua opinião, mas opinião todo mundo tem. Na hora de votar, o eleitor vai entrar na cabine de votação e escolher a pessoa que ele achar ser mais capacitada. Para ser eleita, a Dilma precisa comprovar que ela é mais capaz do que o Serra.

Lula em 2014

Talvez sim, talvez não. Isso não importa. Acorda Brasil, estamos construindo um país. Temos que pensar em todas as futuras eleições, não só a de 2014, mas também as de 2018, 2022, 2042... Com ou sem Lula, o Brasil terá muitos outros presidentes, congressos, governos e políticos. Temos que nos preocupar com a qualidade da sociedade que estamos construindo e não se uma pessoa ou outra vai estar por aí para participar. Como disse antes, as mudanças que estamos fazendo precisam ser permanentes. O principal desafio para que isso ocorra é combater a corrupção que continua a assolar o país. Precisamos fazer uma escolha: estamos construindo um país onde a lei vale para uns e não para outros ou um país onde ela é igual para todos? Quando pegamos um sinal vermelho na rua, não é porque nos ferramos. É porque é a vez do outro passar. Isso é vida em sociedade. Parece simples, mas não é. Quando damos aquele famoso jeitinho para burlar, levar vantagem, nos dar bem, estamos trapaceando sobre o outro. Isso é nocivo à vida em sociedade. Se as regras do jogo não se aplicam a mim, por que é que o outro vai respeitá-las? Desse jeito, não estaremos construindo uma sociedade justa para todos, mas sim uma onde todo mundo procura levar vantagem sobre o próximo. Agora, em época de Copa do Mundo, devemos pensar: patriotismo é um fenômeno que aparece só de quatro em quatro anos? Temos que vestir a camisa do Brasil todos os dias do ano e sempre optar por construir um país melhor. A escolha é nossa, hoje.

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