quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Editorial IstoÉ

"ONDE ESTÃO AS PROPOSTAS?"

Carlos José Marques, diretor editorial

É o que todo mundo quer saber nesta reta final da campanha presidencial. A expectativa de que o segundo turno das eleições se convertesse numa oportunidade única de entender como serão os eventuais governos dos dois postulantes ao cargo foi pouco a pouco caindo por terra. Na medida em que os temas levantados – tanto nos horários eleitorais dos candidatos como nas declarações públicas e no confronto na tevê – partiram para a linha do bateu-levou, descendo ao fundo do poço da baixaria em questões oportunistas como fé e aborto, ficou claro que o caminho era o da pobreza do debate programático. A tática escolhida pelos contendedores impõe ao eleitor grandes prejuízos. É ele quem, em última instância, ficará desprovido de informações vitais na hora de optar por esse ou aquele presidenciável a merecer o seu voto. Como avaliar adequadamente as plataformas de gestão e a qualidade das propostas contidas nas duas alternativas de governo em disputa? Que rumos estão reservados para os próximos quatro anos de um país que, nos últimos tempos, entrou finalmente no trilho do desenvolvimento e vem oferecendo taxas recorde de crescimento econômico, de abertura de postos de trabalho e de melhoria geral da vida de milhões de brasileiros? Que garantias estão sendo dadas de que essa trajetória de avanços seguirá em frente com um ou outro dos aspirantes ao posto? A resposta está distorcida pela onda de boatos e promessas populistas. Falsas acusações, envolvendo os dois adversários, tomaram a internet. Uma hipocrisia dogmática sobre assuntos que logo após as eleições sairão certamente de pauta, como normalmente acontece, virou base de campanha dos marqueteiros. Onde estão as saídas para medidas essenciais como a revisão dos juros, reforma tributária, política cambial e a inserção do Brasil no clube das potências do comércio global? Ninguém sabe, ninguém viu. A grande discussão que restou aos candidatos é sobre o problema do aborto, que, para além das calorosas opiniões, se impõe antes de tudo como uma realidade dramática a afligir inúmeras famílias no País. Neste pormenor, os dois adversários ficaram reféns de uma espécie de chantagem em que a crença deve sublimar os fatos. Privatizar ou não é outro falso dilema, equivocadamente lançado na contenda. O Brasil já andou nessa direção, com privatizações tão oportunas como necessárias – sem as quais o cidadão poderia estar vivendo ainda no tempo das cavernas, caso por exemplo da telefonia. Lamentável é um embate no qual o que mais importa dá lugar a proselitismos.

N° Edição: 2136 20.Out.10

Certas palavras...

“O conhecimento não é sabedoria!
A aprendizagem só em si não é sabedoria.
A sabedoria é a aplicação do conhecimento e dos fatos.
A sabedoria é dar-se conta de que você não sabe nada.
A sabedoria é dizer: minha mente está aberta.
Onde quer que eu esteja, estou apenas começando.
Há cem vezes mais coisas a perceber do que o que conheço.
Isso é o princípio da sabedoria.”

Felice Leo Buscaglia


Imagem: Google

sábado, 16 de outubro de 2010

Deus é tema principal das campanhas eleitorais

O apelo à religião é ridículo. A situação agora é cômica. Não sabemos quais os projetos dos candidatos para o futuro do Brasil. Não falam de reformas, educação, saúde, muito menos em investimentos em infraestrutura. Não falam em lutar pela erradicação da pobreza, em acabar com a miséria do país, que, embora tenha melhorado, ainda é muito grande.

A discussão agora, no segundo turno, é sobre o aborto. Fazer ou não fazer? Legalizar ou não legalizar? Valores. Tentam a todo custo aumentar a popularidade entre os religiosos. A campanha tomou um rumo desnecessário. É um assunto extremamente polêmico. Cada um tem sua opinião, e não é ela que vai determinar se um candidato é melhor que o outro.

Jornais e revistas:

O Globo:

"Datafolha aponta queda de Dilma Rousseff entre eleitores evangélicos"
"Serra utiliza 'santinhos' para atrair voto cristão"
"Dilma faz comício ecumênico com Pai-Nosso"
"Sarney tem alta e critica discussão religiosa na campanha"
"Para Marina Silva, religiosidade do brasileiro não pode ser ignorada"
"Serra distribui cartão em que diz que 'Jesus é a verdade e a justiça', em busca de votos de evangélicos"

Folha.com:

"Dilma sofreu maior queda no Datafolha entre os evangélicos"
"Ala paulista da CNBB estuda limitar manifestações eleitorais de bispos"
"Gráfica recebe encomenda de bispo para imprimir 2,1 mi de panfletos anti-Dilma"
"Em mensagem, Dilma não diz que irá vetar projetos sobre aborto"
"Painel: Esforço para cotejar líderes religiosos divide campanha de Dilma"

Estadão:

"Santinhos de José Serra (PSDB) têm mensagem sobre Jesus"
"Em carta, Dilma assina compromisso contra o aborto"
"Ministério prorroga contrato de estudo para 'despenalizar' aborto"
"PT tenta barrar panfletos encomendados por bispo"
"Evangélicos fazem campanha contra Dilma no Espírito Santo"
"PT ataca tucanos com pílula do dia seguinte"

G1:

"Saiba como a questão do aborto foi tratada nos governos FHC e Lula"
"Religião em política gera 'fanatismo', diz Sarney ao deixar hospital"

Época:

"Em carta a religiosos, Dilma diz ser pessoalmente contra o aborto"
"Serra distribui santinho com mensagem sobre Jesus"

Veja:

"Discussão religiosa domina as campanhas do tucano e da petista"
"Pastores evangélicos do Senado fazem força-tarefa a favor de Dilma"
"Serra busca votos de fiéis com frase sobre Jesus em santinho eleitoral"

Repórter-carrapato

Essa é a vida que escolhi pra mim. Justamente essa. Correr atrás de políticos e me deliciar com cada palavra dita ao acaso, por eles, que, mal sabem, pode mudar o rumo de uma campanha. Como ocorre agora, nestas eleições. Um candidato diz uma coisa hoje e amanhã vai contra suas próprias afirmações. Apenas para que a maioria fique ao seu lado.

O que os candidatos à presidência, Dilma e Serra, também não sabem é que a população tem memória. E por mais que tentem fazer com que esqueçamos seus feitos, isso não acontece. Claro, infelizmente, há aqueles que insistem e persistem no erro. Mas como questioná-los se não há outra escolha. É deprimente pensar que o voto, para muitos, como eu, no próximo dia 31 será baseado na escolha do menos pior. Ou simplesmente para que o ruim ou péssimo não seja eleito.

Essa lambança na política brasileira dá muito o que falar, sempre. Não é difícil encontrar um assunto para debate neste meio.

Não há como nem por que fugir. Ao contrário, é fascinante e envolvente.