sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Sorrisos!


As dificuldades nem sempre representam grandes problemas. Ao contrário, é preciso ser cauteloso, paciente e enxergá-las como um meio para o aperfeiçoamento daquilo que se pretende desenvolver com maestria. Assim foi o meu 2011. Nem tudo ocorre como planejamos, mas isso não significa que devemos desistir. Mudam-se os percursos, mas o destino pode ser o mesmo. Aprendi a dobrar esquinas e caminhar por vias que antes jamais imaginei ter de passar. O ano que termina me deu o melhor presente. Um sonho se realizou e, agora, sou uma jornalista!  

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A alma encantadora das ruas


Google imagens

"Oh! sim, as ruas têm alma! Há ruas honestas, ruas ambíguas, ruas sinistras, ruas nobres, delicadas, trágicas, depravadas, puras, infames, ruas sem história, ruas tão velhas que bastam para contar a evolução de uma cidade inteira, ruas guerreiras, revoltosas, medrosas, spleenéticas, snobs, ruas aristocráticas, ruas amorosas, ruas covardes, que ficam sem pinga de sangue..."

Livro do brilhante jornalista literário João do Rio.

sábado, 10 de setembro de 2011

Hostels organizam excursões para levar turistas ao mais famoso funk carioca

Os albergues do Rio de Janeiro oferecem passeios ao Cristo Redentor, Pão de Açúcar, trilha na Pedra da Gávea, Floresta da Tijuca, entre outros. Porém, é o “Favela Funk party”, no Castelo das Pedras, que mais chama a atenção.

Às 23h, aos domingos, os turistas são levados por vans ou micro-ônibus até o local do ‘pancadão’. O preço do passeio é R$ 60, incluso a passagem e a entrada no Castelo. No meio do caminho, uma parada em um posto de gasolina e o aviso: “o Castelo das Pedras pertence à milícia e por isso não é permitido entrar com nenhum tipo de droga”.

O Castelo das Pedras fica na favela pacificada Rio das Pedras, Estrada de Jacarepaguá, na Barra da Tijuca. Lá, os turistas ocupam os 15 camarotes no andar superior. Devido aos preços baixos, os balcões dos bares ficam completamente ocupados. Cerveja por R$ 2. A entrada custa R$ 3 para os homens, mulher é vip. A casa comporta até 6 mil pessoas e, por isso, está sempre muito cheia. Na pista, os homens são maioria.

Nas coreografias, a sensualidade dá lugar à vulgaridade, presente também nas ‘músicas’ - o sexo predomina. A letra do funk mixado na mesa do dj impressiona, assim como o movimento de tremer o abdome e o quadril e descer até o chão praticado pelos mais experientes. A chamada “surra de bunda” - quando uma mulher dança sobre o corpo do homem, aponta e bate com as nádegas na cara dele, que mais parece um ato sexual e não um passo de dança - leva o público (maioria masculino, vale lembrar) à loucura quando vista no palco. Os turistas mais curiosos e à vontade não se intimidam e participam da dança.

A noite do Castelo das Pedras encerra às 4h. A casa ainda está cheia quando o som acaba e as portas se abrem. Em frente, uma multidão permanece nas estreitas ruas e, aos poucos, se dispersa. Os turistas, guiados pelos motoristas e organizadores do passeio, são conduzidos de volta aos hostels.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Sombra sem luz

Um olhar triste, solitário. Cabeça inclinada para baixo. Aparentemente, ela não consegue reerguer-se, enxergar acima do nariz, mas sempre por baixo dele. Como se algo o puxasse para o chão, chamasse sua atenção o tempo todo. Como um cachorro perdido, que sente falta do dono sempre tão carinhoso. A coluna é curva - como naquele desenho - e parece empurrá-lo ainda mais para baixo. Cabelos encaracolados, negros, sujos, quebradiços.

As diversas rugas no rosto tanto podem demonstrar o longo tempo de vida quanto podem ser resultado de um tempo de agruras. Barba mal feita. Não mal feita como fazem os garanhões - “puro charme”, mas mal feita como se cada pelo tivesse sido arrancado com as unhas, e que alguns - grande maioria - elas não conseguiram alcançar, foram vencidas pela velhice deles. Embora fracos, sem um sabonete, que seja, os pelos são fortes. Fortes no sentido de que suas raízes, na derme, têm mais forças que as unhas das mãos, que não possuem nutrientes necessários para que sejam capazes de destruir, um a um, os invasores da pele do rosto que um dia foi lisa e bem tratada.

Roupas escuras. Se tinham cores, já não é possível vê-las. Numa escala de cinzas, o branco não aparece. Mas o preto, sim. Tanto em seus trajes quanto em sua vida sem luz, esquecida. O velho cobertor rasgado, maltrapilho, com as lãs que fogem das poucas costuras existentes, envolve os braços nus. Pois apenas os ombros, e o tronco, são escondidos por um pano que, na escala de cinzas, está entre o cinza claro – já que não há branco – e o preto, aquele mesmo preto presente em sua vida. O que parece ser uma bermuda se mistura com o que se pode chamar de camiseta. Por causa da falta de cores, tornam uma peça única.

Pernas de fora. Algo em seus pés pode ser classificado, já que cobre algumas partes deles, como um tênis. Sim, é possível perceber pelas cordas soltas que se movimentam a cada passo que ele dá, e pelas “línguas” que se desprendem do dorso magro. Mais uma vez, a tal escala de cinzas.

Um pedaço de pão. Numa manhã fria em São Paulo ele só queria um pedaço de pão. E esperava, incansavelmente, como um cachorro que aguarda, ao lado da mesa, um pedaço de carne. Ele queria apenas ser notado, por isso ficou na porta. Mesmo assim, era transparente. Não tinha cores. Ninguém o enxergava. Ele não falava, ele não pediu o pedaço de pão. Para quê falas quando a imagem grita? Grita. Grita. Grita, sem parar. E os surdos não têm “aparelho”, não podem ouvir. Não escutam o quanto ele clama por um pedaço de pão. São 11 horas da manhã de um domingo de sol que não aquece. E ele insiste. Não pode sair enquanto não destruir aquilo que o extermina por dentro. Precisa alimentar o ogro em seu estômago para que consiga ter forças suficientes nas unhas para arrancar os pelos de seu rosto.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Por um instante apenas

Sobe a escada rolante, não como de costume - às pressas - mas, lentamente, com as mãos no corrimão, em pé, à direita. Enquanto isso, repara nos rostos, expressões, que descem. Um leva a mão à cabeça, sorri e desliga o celular; outro gesticula, enquanto fala sem parar; outras duas, atentas, fixam o olhar na escadaria, mas não escondem a atenção às palavras do moço palavreador entre elas.

Mais acima, um grupo inicia a descida. Cabeças baixas, sorrisos tímidos, conversas paralelas – ela não entende. Frustração. Pois o melhor de estar nos vagões do metrô, por exemplo, é poder ouvir o papo alheio, já que o tempo entre as estações não permite o deliciar-se com várias páginas do livro. Em meio à empolgação, ao delírio, a cada frase lida, o maquinista anuncia a próxima estação – é justamente a que se deve desembarcar.

Enxerga a grande avenida. Frio. O vento gélido torna os olhos úmidos e os lábios secos. Os cabelos voam, enquanto o casaco preto é apertado pelas mãos nos bolsos sobre o corpo. Olha para um lado, olha para o outro, não o vê. Estranho. Ele não costuma se atrasar. Entra novamente para o aquário de vidro. Para. Consegue enxergar tudo e todos. São muitos. Percebe os diversos olhares, as demonstrações de sensações ao entrar ou sair. Os risos e os choros. Seus olhos se movem cada vez mais rápido, e mesmo assim não consegue acompanhar, se perde.

Mais uma vez, olhar fixo na escada. Cinco minutos. Dez minutos e ela reconhece uma pontinha da blusa verde entre as milhares de pretas, vermelhas, azuis, brancas. Uma olhadela no corrimão e uma mão com dedos saltitantes, ferozes, também é reconhecida. Passam as blusas pretas, brancas, azuis, vermelhas... eis que a verde o traz. Um sorriso. Dois. Um abraço. Nenhuma voz. Nenhum ruído. Sentem, ambos, o pulsar dos corações. Por um instante parecem um só, as batidas se igualam e, assim, tornam-se únicas. Únicos.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

uma Reportagem!

06.06.2011

Em vilarejo japonês, a dor de abandonar a casa é maior que o medo da radiação

DER SPIEGEL
Cordula Meyer


Os níveis de contaminação no vilarejo japonês de Iitate, nas montanhas, são mais altos do que em algumas partes da zona de exclusão de Tchernobil. Sua evacuação tem sido um processo doloroso para os moradores – e muitos têm mais medo de mudar do que da radiação.
Por que ela não percebeu nada? É uma questão que preocupa Mieko Okubo. Por que ela não viu os sinais?
Se ela tivesse prestado mais atenção, talvez Fumio, seu sogro, ainda estivesse vivo hoje. Ele estaria sentado com ela à mesa, olhando para suas plantações de arroz através da porta aberta da varanda, como havia feito durante anos.
“Nós temos de deixar Iitate?”, perguntou Fumio em 11 de abril, quando a rede de televisão NHK reportou que o vilarejo provavelmente seria evacuado.
“Se eles dizem isso na televisão”, ela mesma respondeu prontamente.
“Nós temos mesmo que ir?”, perguntou Fumio de novo, e sua nora não tinha pensado nada sobre isso.
Mieko Okubo tem cabelos pretos finos e curtos, mãos miúdas. O cinzeiro à sua frente está cheio com pelo menos uma dúzia de bitucas de cigarro, longas e finas. “Como no mundo eu não consegui reconhecer o quão importante essa questão era para ele?”, ela se pergunta hoje.
Ela se culpa por não ter percebido as pequenas coisas: como ele se sentava o dia inteiro, todo encurvado e não ficava ereto como costumava ficar, que ela não percebeu quando ele não tocou no frango ou nos vegetais no jantar; e não reagiu quando ele parou de responder a suas perguntas.

Por que um homem de 102 anos precisa sofrer?
Na manhã seguinte, Mieko acordou às 5h para preparar o café da manhã, como sempre. Quando ela não ouviu nenhum barulho de seu sogro às 8h, ela chamou: “o café está na mesa”.
Então ela abriu a porta do quarto dele. Viu o tatami no chão, estendido de forma elaborada como se fosse um dia especial. Então viu seu sogro. Fumio Okubo havia se enforcado em seu quarto. Ele tinha 102 anos.
Okubo passou sua vida inteira em Iitate. A mulher com quem ele tinha se casado aos 17 morreu 80 anos depois. Ele fez sua primeira viagem para a capital, Tóquio, a 250 quilômetros dali, com um grupo de terceira idade. O que seria ganho ao evacuar um homem dessa idade?
Logo depois de sua morte, Mieko Okubo amaldiçoou a TEPCO, operadora da usina nuclear de Fukushima Daiichi, a companhia que matou seu sogro. Agora ela chora baixinho e pergunta: “por que um homem de 102 anos precisa sofrer?”
Nos dias seguintes às explosões dentro dos reatores de Fukushima, o vento carregou nuvens de radiação na direção noroeste, até as montanhas em volta de Iitate, cerca de 40 quilômetros de distância da usina. As pessoas que trabalhavam nas plantações no momento pouco sabiam dos perigos no céu. Ninguém as havia alertado.
Mais tarde, as autoridades mediram níveis de radiação de até 45 microsieverts por hora em Iitate. Isto equivale a várias vezes o nível que levou à evacuação em Tchernobil. Nenhum especialista hoje questiona a decisão de evacuar o vilarejo.

Perda da sensação de segurança
Iitate é cercado por florestas de pinheiro e cedro japonês, as montanhas chegam a mil metros de altura. No verão, aventureiros armam suas barracas ao lado das águas limpas de um lago na montanha. Durante gerações, o povo da região trabalhou durou para sobreviver da terra. Para os fazendeiros e artesãos de Iitate, a perda não pode ser medida em microsieverts. Os moradores de Iitate estão perdendo seu lar, e uma sensação de segurança que nunca recuperarão.
Numa sala superlotada do piso térreo da prefeitura, uma equipe liderada pelo gerente de resposta a desastres Shuichi Sato está tentando organizar a mudança dos moradores locais. “Em 22 de abril, o governo em Tóquio anunciou que as pessoas de Iitate deveriam evacuar dentro de um mês. Mas eles não disseram nada sobre como isso deveria funcionar”, reclama Sato.
Ele e sua equipe passam a maior parte do tempo procurando apartamentos. Antes do desastre de Fukushima, havia pouco menos de 7 mil pessoas morando em Iitate; agora há cerca de 3 mil. E como as vítimas do terremoto e do tsunami, além dos moradores de outras partes das áreas restritas já receberam moradias de emergência, quase não há apartamentos disponíveis em toda a região.
Mulheres grávidas e famílias com crianças pequenas foram evacuadas num domingo há duas semanas, seguidas por famílias com crianças em idade escolar. Sato espera que todas as famílias com crianças deixem o local em breve. Os moradores remanescentes deverão deixar suas casas até o final de junho. Sato, que não tem o poder legal para obrigá-las a sair, diz: “esperamos que elas cooperem”.

De reunião em reunião
Um cordão da polícia balança em frente à entrada das escolas. O centro comunitário está fechado. O único supermercado na cidade continua aberto, embora algumas das prateleiras estejam vazias. Poucos trabalhadores da construção estão alargando uma parte de uma rua do vilarejo, embora logo ela não seja mais usada. Um sinal de imobiliária continua pregado na frente de uma casa de família nova e cinza: 8 milhões de yens (US$ 100 mil).
“Essas pessoas nasceram aqui. É seu lar”, diz Sato. “E nós não sabemos nem dizer quando elas poderão voltar.” Ele está usando um jaleco de cor suave com cartões de identidade pendurados num cordão azul em seu pescoço. Ele corre de uma reunião para a próxima, e mesmo assim consegue tempo para atender às cerimônias de despedida que estão sendo realizadas em todo o vilarejo.
Antes do desastre, Iitate havia enfrentado o mesmo destino que muitos vilarejos japoneses: seus jovens havia ido embora para as cidades, deixando os idosos para trás. Em resposta, a cidade organizou festivais de vizinhos, desenvolveu a carne bovina local para se tornar uma marca reconhecida e criou mais empregos para jovens.
Iitate foi recentemente admitido numa associação dos mais belos vilarejos japoneses. O lema da cidade é “Madei”, ou “Ser Consciente”, e seu símbolo mostra duas mãos carregando um coração. Os moradores locais não trancam suas portas à noite.
Agora a crise nuclear criou rugas profundas no rosto amigável do prefeito de Iitate, Norio Kanno. Seu cabelo está bagunçado e seu jaleco coberto de óleo. Quando Kanno é questionado para citar sua decisão mais difícil desde o início da crise, ele diz: “todos os dias desde então são os mais difíceis. Afinal, sou responsável por todos no vilarejo.”

Decidindo ficar
Como prefeito, Kanno trabalhou duro para convencer os jovens a ficarem em Iitate. Agora ele está furioso com o governo em Tóquio. “Eles dizem: desde que as pessoas estejam protegidas da radiação, tenham um telhado sobre suas cabeças e comida suficiente, tudo está bem”. Mas as pessoas em Iitate sentem-se conectadas a suas casas e ao vilarejo que chamam de lar, diz eel. “A TEPCO é responsável pela perda deles”, diz o prefeito.
O governo japonês está aparentemente ansioso para evitar que essa raiva chegue aos ouvidos públicos. Durante a entrevista, um funcionário do poderoso Ministério da Economia, Comércio e Indústria (METI) apareceu de repente. Kanno ficou em silêncio no meio de uma sentença, e depois foi tirado dali pelo homem do METI.
Mas o METI não pode silenciar todos em Iitate. Kayoko e Hideyoshi Hasegawa, por exemplo, fizeram suas vidas como criadores de gado leiteiro. As pastagens brilham sob a névoa às 5h15 da manhã, enquanto Hideyoshi enrola feno numa grande bola, coloca-a num carrinho de mão e a distribui para suas 24 vacas. Os animais estão magros, agora que não têm recebido ração concentrada há algum tempo.
A mulher de Hideyoshi lava cuidadosamente cada teta das vagas com um pano limpo e água quente, e então às conecta à máquina de ordenha. Depois que as vacas são ordenhadas, ela simplesmente abre a torneira e deixa o leite fresco fluir para o dreno. “As vacas usam seus próprios corpos para produzirem mais leite, diz ela, com lágrimas nos olhos. “E então jogamos tudo fora.”
Com a radiação tóxica pairando no celeiro e em seus pastos, os Hasegawa não podem vender o leite. Agora eles esperam ser capazes de pelo menos encontrar alguém para matar suas vacas. “Então alguém as matará para nós. Nós mesmos matarmos e enterrarmos seria demais para nós”, diz Kayoko.

Poucos motivos para ter esperança
Uma de suas filhas encontrou um apartamento de dois quartos para o casal na cidade de Fukushima. Hideyoshi Hasegawa planeja visitar a fazenda uma vez por semana para cuidar das coisas. Ele espera que a família seja capaz de retornar depois de dois anos, embora tenham poucos motivos para ter esperança. O césio 137 nas terras da fazenda têm uma meia vida de 30 anos.
O pai de Hideyoshi Hasegawa plantou um jardim de bonsai na fazenda da família, completo com um lago para carpas. O homem de 84 anos sobe numa escada dobrável para podar a próxima árvore. “Não deixarei este lugar”, diz ele, “nem mesmo se ameaçarem me matar”.
Ele pretende seguir o caminho dos 107 moradores do lar de idosos de Iitate. O prefeito conseguiu permissão para que eles ficassem. Ele argumentou que os idosos mal precisam sair de casa, que eles estão bem protegidos da radiação dentro do prédio e que removê-los à força de seu ambiente os deixaria doentes imediatamente. As enfermeiras e funcionários do asilo terão de viajar para o que se tornará uma cidade fantasma. Para qualquer outra pessoa que decidir ficar, o motorista do caminhão de leite continuará levando os suprimentos básicos para o vilarejo uma vez por semana.
O asilo foi construído de acordo com “Madei”, com um custo de mais de 20 milhões de euros. Ele é aquecido com bolinhas de madeira, o que supostamente é bom para o meio ambiente e para o futuro.
Yukie Niigawa, de 29 anos, via um futuro para seus filhos em Iitate. Ela está segurando sua filha pequena, Kurumi, nos braços. A menina nasceu em 17 de março, seis dias depois do terremoto. Niigawa ainda está lá com seus quatro filhos porque ainda está se recuperando do parto. Sandálias Croc coloridas estão alinhadas perto das sandálias da Hello Kitty de Niigawa na entrada de seu apartamento.

Perder o lar
O nível de radiação é alto até mesmo em sua sala de estar: dois microsieverts por hora, mais alto do que em muitas partes da área restrita. A agulha do contador Geiger levanta rápido para oito microsieverts do lado de fora. Niigawa só deixa seus filhos saírem de casa uma hora por dia – e só com botas, chapéus e máscaras. Ela é uma mãe solteira.
Depois de procurar na internet, Niigawa encontrou uma casa pequena para sua família na cidade de Fukushima. O governo pagará o aluguel dos refugiados da radiação.
Mas o que ela fará lá? Até agora, Niigawa sobrevivia alugando as plantações de arroz da família para agricultores locais. Alguns pagavam em yens enquanto outros pagavam em arroz. Mas agora, quando a mãe solteira coloca seus filhos na cama à noite, ela costuma ficar acordada pensando em como alimentará seus filhos. Ela já guardou as certidões de nascimento e o álbum de fotografias das crianças numa caixa. Que também contém uma placa de madeira em homenagem a seu pai, que morreu em janeiro. “Nós não sabemos se voltaremos para cá”, diz ela.
Vinte anos depois de Tchernobil, a ONU publicou um relatório amplo sobre a saúde dos moradores retirados da área de restrição de lá. De acordo com o relatório, as pessoas ficaram traumatizadas pela perda de suas casas e pelo medo dos danos da radiação. Acreditando que estão fadados a morrer, muitos bebem e fumam em excesso.
Trabalhadores da organização de ajuda Heart Rescue estão fazendo uma pausa num estacionamento na prefeitura, usando macacões de proteção e máscaras. Preocupados com as pessoas que estão atrás da zona de evacuação, eles andam pelos vilarejos vazios e questionam todas as pessoas que encontram. Eles perguntam sobre sua ansiedade, acessos de choro, álcool e pensamentos suicidas.

Iitate está esperando
Muitas pessoas exibem sinais de síndrome do estresse pós-traumático, diz Bansho Miura. “Especialmente os agricultores jovens. Eles não sabem para onde irão”. Alguns, diz ele, haviam adotado a produção orgânica, mas agora provavelmente nunca venderão produtos orgânicos novamente.
Mieko Okubo, a mulher que perdeu o sogro, está tentando continuar. Ela tenta lutar contra o remorso. Mais bitucas de cigarro se acumularam em seu cinzeiro. Ela diz que queria largar o cigarro. “Agora provavelmente nunca o farei”, acrescenta.
Seu marido foi diagnosticado com câncer no pâncreas em outubro passado. Quando o tsunami chegou, ela foi visitá-lo num hospital na costa. Ela viu a onda chegar, e diz que não há palavras para descrever o que viu depois.
Depois daquilo, seu marido foi transferido para o hospital em Niigata, a quatro horas de carro de Iitate. Como resultado, ela não o visita mais com tanta frequência.
Toda vez que ela anda no hospital agora, desliga uma chave em sua cabeça. Seu marido não sabe de nada sobre a evacuação de seu vilarejo e sobre a morte de seu pai. Ela não quer tornar seus últimos dias ainda piores.
Em vez disso, ela fala sobre coisas que não existem mais. Seu marido ainda acredita que Iitate está esperando por ele.

Tradução: Eloise De Vylder

Extraída: UOL Mídia Global

segunda-feira, 14 de março de 2011

Entrevista com Jean Baudrillard

Antiga, mas vale a pena!

Jean Baudrillard: A verdade oblíqua

O pensador que inspirou a trilogia "Matrix" não gosta do filme e acha que a cultura americana impõe padrões banais. Por Luís Antônio Giron, Revista Época, 7 junho 2003


O professor baixo e mal-humorado é hoje uma das figuras mais populares do novo século. O pensador francês Jean Baudrillard, de 74 anos, recusa-se a falar em inglês. Mesmo assim, é tão popular nos Estados Unidos por causa de suas análises sobre a cultura de massa que foi convidado a fazer um show de filosofia em Las Vegas. E seu nome está na boca dos espectadores da trilogia Matrix. No primeiro filme dos irmãos Wachowski, o hacker Neo (Keanu Reeves) guarda seus programas de paraísos artificiais no fundo falso do livro Simulacros e Simulação, de Baudrillard. Keanu leu o livro e costuma mencionar o autor em todas as suas entrevistas sobre Matrix Reloaded, o novo filme da trilogia. Até porque o ensaio sobre como os meios de comunicação de massa produzem a realidade virtual inspirou os diretores de Matrix a criar o roteiro.

Baudrillard não parece ligar para a fama. Ele esteve no Brasil para lançar seu novo livro, Power Inferno (Sulina, 80 páginas, R$ 18), e participar da conferência 'A Subjetividade na Cultura Digital', na Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, onde falou com ÉPOCA. Sempre pautado por assuntos atuais, ele analisa no ensaio os atentados de 11 de setembro de 2001 como um ato simbólico contra o Ocidente. Nesta entrevista, ele fala sobre seu pensamento turboniilista, 11 de setembro e arte. Se a realidade já não existe e vivemos um permanente e conspiratório espetáculo de mídia, como quer Jean Baudrillard, o pensador exerce a função de entertainer às avessas. Ele decreta o fim dos tempos, e todo mundo vibra.

ÉPOCA - Suas idéias demolidoras estão mais em moda do que nunca. O mundo ficou mais parecido com o senhor?

Jean Baudrillard - Não aconteceu nada. O resultado de um consumo rápido e maciço de idéias só pode ser redutor. Há um mal-entendido em relação a meu pensamento. Citam meus conceitos de modo irracional. Hoje o pensamento é tratado de forma irresponsável. Tudo é efeito especial. Veja o conceito de pós-modernidade. Ele não existe, mas o mundo inteiro o usa com a maior familiaridade. Eu próprio sou chamado de 'pós-moderno', o que é um absurdo.

ÉPOCA - Mas pós-modernidade não é um conceito teórico racional?

Baudrillard - A noção de pós-modernidade não passa de uma forma irresponsável de abordagem pseudocientífica dos fenômenos. Trata-se de um sistema de interpretações a partir de uma palavra com crédito ilimitado, que pode ser aplicada a qualquer coisa. Seria piada chamá-la de conceito teórico.

ÉPOCA - Se não é pós-moderno, como o senhor define seu pensamento em poucas palavras? Os críticos o chamam de pensador terrorista, ou niilista irônico.

Baudrillard - Sou um dissidente da verdade. Não creio na idéia de discurso de verdade, de uma realidade única e inquestionável. Desenvolvo uma teoria irônica que tem por fim formular hipóteses. Estas podem ajudar a revelar aspectos impensáveis. Procuro refletir por caminhos oblíquos. Lanço mão de fragmentos, não de textos unificados por uma lógica rigorosa. Nesse raciocínio, o paradoxo é mais importante que o discurso linear. Para simplificar, examino a vida que acontece no momento, como um fotógrafo. Aliás, sou um fotógrafo.

ÉPOCA - Como o senhor explica a espetacularização da realidade?

Baudrillard - Os signos evoluíram, tomaram conta do mundo e hoje o dominam. Os sistemas de signos operam no lugar dos objetos e progridem exponencialmente em representações cada vez mais complexas. O objeto é o discurso, que promove intercâmbios virtuais incontroláveis, para além do objeto. No começo de minha carreira intelectual, nos anos 60, escrevi um ensaio intitulado 'A Economia Política dos Signos', a indústria do espetáculo ainda engatinhava e os signos cumpriam a função simples de substituir objetos reais. Analisei o papel do valor dos signos nas trocas humanas. Atualmente, cada signo está se transformando em um objeto em si mesmo e materializando o fetiche, virou valor de uso e troca a um só tempo. Os signos estão criando novas estruturas diferenciais que ultrapassam qualquer conhecimento atual. Ainda não sabemos onde isso vai dar.

ÉPOCA - A disseminação de signos a despeito dos objetos pode conduzir a civilização à renúncia do saber?

Baudrillard - Alguma coisa se perdeu no meio da história humana recente. O relativismo dos signos resultou em uma espécie de catástrofe simbólica. Amargamos hoje a morte da crítica e das categorias racionais. O pior é que não estamos preparados para enfrentar a nova situação. É necessário construir um pensamento que se organize por deslocamentos, um anti-sistema paradoxal e radicalmente reflexivo que dê conta do mundo sem preconceitos e sem nostalgia da verdade. A questão agora é como podemos ser humanos perante a ascensão incontrolável da tecnologia.

ÉPOCA - Seu raciocínio lembra os dos personagens da trilogia Matrix. O senhor gostou do filme?

Baudrillard - É uma produção divertida, repleta de efeitos especiais, só que muito metafórica. Os irmãos Wachowski são bons no que fazem. Keanu Reeves também tem me citado em muitas ocasiões, só que eu não tenho certeza de que ele captou meu pensamento. O fato, porém, é que Matrix faz uma leitura ingênua da relação entre ilusão e realidade. Os diretores se basearam em meu livro Simulacros e Simulação, mas não o entenderam. Prefiro filmes como Truman Show e Cidade dos Sonhos, cujos realizadores perceberam que a diferença entre uma coisa e outra é menos evidente. Nos dois filmes, minhas idéias estão mais bem aplicadas. Os Wachowskis me chamaram para prestar uma assessoria filosófica para Matrix Reloaded e Matrix Revolutions, mas não aceitei o convite. Como poderia? Não tenho nada a ver com kung fu. Meu trabalho é discutir idéias em ambientes apropriados para essa atividade.

ÉPOCA - Quanto à arte, o senhor se dedicou a analisar o fenômeno artístico ao longo dos anos. Em que pé se encontra a arte contemporânea?

Baudrillard - A arte se integrou ao ciclo da banalidade. Ela voltou a ser realista, a desejar a restituição da reprodução clássica. A arte quer cumplicidade do público e gozar de um status especial de culto, situação prefigurada nas sinfonias de Gustav Mahler. Claro que há exceções, mas, em geral, os artistas se renderam à realidade tecnológica. Desde os ready-mades de Marcel Duchamp, a importância da arte diminuiu, porque a obra de arte deixou de ter um valor em si. Os signos soterraram a singularidade. Os artistas se submetem a imperativos políticos, e não mais seguem ideais estéticos. A arte já não transforma a realidade e isso é muito grave.

ÉPOCA - Por que o senhor escreveu tanto sobre a cultura americana mas nunca refletiu sobre o Brasil, que o senhor tanto adora visitar?

Baudrillard - Já me cobraram um livro sobre o Brasil. Cito-o em minhas Cool Memories (trabalho no quinto volume) e em outros textos, mas a cultura brasileira é muito complexa para meu alcance teórico. Ela não se enquadra muito em minhas preocupações com a contemporaneidade, não tem nada a ver com a americana, com seus dualismos maniqueístas, um país que se construiu a partir das simulações, um deserto da cultura no qual o vazio é tudo. Os Estados Unidos são o grau zero da cultura, possuem uma sociedade regressiva, primitiva e altamente original em sua vacuidade. No Brasil há leis de sensualidade e de alegria de viver, bem mais complicadas de explicar. No Brasil, vigora o charme.

ÉPOCA - O que o senhor pensa da civilização americana depois dos atentados de 11 de setembro? O mundo mudou mesmo por causa deles?

Baudrillard - Claro que mudou. Nunca mais seremos os mesmos depois da destruição do World Trade Center. Abordo o tema em Power Inferno, uma coletânea de artigos sobre o império americano e a política. Considero os atentados um ato fundador do novo século, um acontecimento simbólico de imensa importância porque de certa forma consagra o império mundial e sua banalidade. A Guerra do Iraque apenas dá seqüência às ações imperiais. Os terroristas que destruíram as torres gêmeas introduziram uma forma alternativa de violência que se dissemina em alta velocidade. A nova modalidade está gerando uma visão de realidade que o homem desconhecia. O terrorismo funda o admirável mundo novo. Bom ou mau, é o que há de novo em filosofia. O terrorismo está alterando a realidade e a visão de mundo. Para lidar com um fato de tamanha envergadura, precisamos assimilar suas lições por meio do pensamento.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Miséria no nordeste

Ela está atrás de um muro. Desce e corre quando percebe o carro se aproximando. Ela me vê, enxerga a máquina fotográfica e passa a mão nos cabelos emaranhados e encaracolados. Segura-os por alguns instantes e os solta. Sai, caminha em direção a mãe que recepciona um homem que desce do mesmo carro onde eu estava. Ele tem sacolas nas mãos. Ela então me olha outra vez, levanta a alça da blusa azul desbotada e muito grande para o seu tamanho. Fixa o olhar assim que percebe que seguiremos e ela permanecerá ali. E, de longe, vejo-a sumir.

Esta cena se repete outras vezes por mais alguns quilômetros. Crianças saem de casa correndo quando percebem que o carro que leva seus pais ao centro das pequenas cidades acaba de trazê-los de volta. E eles quando chegam, quase sempre, têm sacolas nas mãos. Algumas casas são de barro batido. De fora, pela janela, enxerga-se o que seria a sala de estar. Dentro dela, uma rede de um canto ao outro. Em outras, uma rede e uma tv. Segundo os próprios moradores destas casas, as coisas melhoraram. E hoje, eles conseguem ter uma vida mais digna.

Nos últimos anos, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a taxa de pobreza no Brasil reduziu 0,9% por ano, nos governos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva. As perspectivas do IPEA é que, até 2016, o país possa ter um índice próximo à de países ricos, caso cada estado matenha um ritmo de crescimento econômico diferenciado na redução da miséria.

De acordo com a ONG ActionAid, que analisa os esforços de 28 países para combater o problema, o Brasil, nos últimos dois anos, liderou o ranking de progresso na luta contra a pobreza. Segundo os organizadores, a fome foi realmente prioridade no país.

No entanto, ao percorrer alguns estados do nordeste brasileiro, custa-se a acreditar que isso realmente possa acontecer em tão pouco tempo.

O Maranhão, hoje governado por Roseana Sarney (PMDB) pela quarta vez, esteve durante muitos anos em primeiro lugar no ranking dos estados mais pobres do Brasil. Atualmente, perde apenas para Alagoas, 27,2% dos maranhenses vivem em extrema pobreza. Piauí é o terceiro, e Ceará ocupa a quarta posição.

Segundo o IPEA, em 1995, período referente aos governos de Edison Lobão e Roseana Sarney, conhecida como "a década perdida", o Maranhão tinha a maior taxa de pobreza absoluta, 77,8% seguido por Piauí com 75,7% e Ceará com 70,3%. A redução no indíce de extrema pobreza ocorreu entre os anos de 2003 e 2008, quando o Maranhão era governado por José Reinaldo Tavares.

Além de estarem nas últimas posições do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Alagoas e Maranhão têm o pior PIB per capita do país. Enquanto que seus governadores, respectivamente, Teotônio Vilela Filho (PSDB) e Roseana, são os mais ricos de todos os estados brasileiros.

Não é preciso procurar. Nas estradas, do Maranhão ao Ceará, ao passar por cidades como Barreirinhas, Paulino Neves, Tutóia e Parnaíba, no Piauí, percebe-se que a pobreza está longe de ser combatida. As pessoas vivem em condições precárias. O que se pensa ver apenas nos filmes, lá, se vê ao vivo.

domingo, 30 de janeiro de 2011

A "Cidade dos Azulejos" está em ruínas

O Centro Histórico de São Luís do Maranhão, eleita em 2009 a Capital Brasileira da Cultura, está em decadência. Apesar de alguns poucos prédios terem sido reformados e outros ainda estarem em processo de restauração, grandes sobrados e casarões estão praticamente destruídos, abandonados. O mal cheiro e a sujeira estão por toda parte. À noite, moradores e turistas podem ser vistos, no máximo, até às 22h. Depois disso as ruas ficam desertas. Segundo moradores da região, há um grande número de usuários de crack e outras drogas, além da prostituição, que é intensa durante toda a madrugada.

Apesar disso, de acordo com uma pesquisa realizada pelo São Luís Convention & Visitors Bureau (SLC&VB), em parceria com a Faculdade São Luís, entre junho e novembro de 2009, o Centro Histórico ainda é o local mais visitado pelos turistas. Dos 149 entrevistados, 35% o escolheram, em seguida ficaram as praias (30%) e os bares da lagoa (21,25%).

Fundada em 1612, a Cidade dos Azulejos, como é conhecida, e principalmente a região central, traz características dos povos (nativos, franceses, portugueses e africanos) formadores de sua identidade. Nas estreitas ruas, há uma grande quantidade de casas de artesanato. Nelas, chamam atenção as variadas cores, no entanto, é mais visível as paredes descascadas, que escondem, mas nem tanto, as antigas pinturas. Cerâmicas desenhadas e pintadas com muitas cores, algumas com grandes rachaduras, que deformam as figuras e dificultam a compreensão de cada uma.

Na Praça Dom Pedro II, a sensação é de estar na Praça da Sé, em São Paulo. Muitos mendigos, alguns deitados e outros pedindo um trocado. Além deles, há comerciantes por toda a parte. Gritos e cantorias de diversos estilos. O mal cheiro é absurdamente forte. Mas é notável que os moradores daquele lugar já não percebem isso. O lixo e a sujeira passam despercebidos, assim como os buracos nas calçadas, que as pessoas têm de pular. É provável que os responsáveis por aquela cidade também pulam esses lugares na hora de investir em infraestrutura, pois a situação no Centro é muito mais do que precária.

Em junho de 2010, vereadores de oposição e aliados do prefeito João Castelo (PSDB) cogitaram a possibilidade de um impeachment para retirar o tucano do poder. Um dos principais motivos era a insatisfação da sociedade diante a má administração. Neste ano, a fim de melhorar a situação urbanística, cultural, funcional e social no patrimônio histórico, João Castelo firmou, na última semana de janeiro, um termo de parceria com empresários da capital maranhense, é a chamada “Aliança pelo Centro Histórico”. De imediato, haverá equipes de limpeza permanente. As obras de revitalização devem ser realizadas inicialmente nas principais ruas do Centro, onde há um fluxo maior de turistas.

Atualmente, as reformas são vistas apenas em hotéis e pousadas. São poucos os trabalhadores no alto de andaimes. Esses poucos tentam, a todo custo, recuperar a história de cada prédio. São nesses recuperados que se vê a beleza do patrimônio arquitetônico, que não são suntuosas construções com detalhes em ouro, mas a simplicidade da uniformidade das casas.

Nas ruas Boaventura, da Estrela, do Comércio e Portugal, lado a lado, dentro das paredes com cores descaracterizadas e azulejos quebrados, vendedores montaram suas lojas e nelas vendem artigos típicos, como bolsas, tapetes e chinelos de fibra de buriti, árvore típica do nordeste brasileiro. É o que restam aos turistas de diversas regiões, principalmente aos "gringos", que desejam apreciar ou comprar peças de azulejos (inteiros) coloridos.

Ao chegar à cidade, a primeira impressão não é das melhores e, com o passar dos dias, ao visitar os pontos turísticos principais do centro, isso se confirma. A região sofre com o descaso e o abandono do poder público.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Dilma Presidente

Hoje, no primeiro dia de 2011, uma mulher assume a Presidência da República do Brasil, Dilma Rousseff. Durante toda a campanha em 2010, ela estabeleceu como meta em seu governo aquilo que também foi prioridade para o, agora ex-Presidente, Lula, a erradicação da pobreza.

18 milhões. Este é o número de pessoas que Dilma tem como desafio retirar da miséria. É triste pensar que ainda existe uma quantidade tão grande de brasileiros nesta classificação. Lula fez muito em seu governo. Nele, houve a maior ascensão social de todos os tempos. Mas não o suficiente para que possamos dizer que, enfim, somos um país de igualdade. Longe disso. Talvez isso realmente nunca aconteça. Este pensamento é utópico, simplesmente porque o nosso sistema, e o do mundo inteiro, não permite. O novo governo deve entender que diminuir a fome, em um país em que a previsão para a economia é crescer cada vez mais, deve ser muito mais do que uma simples meta.


Imagem: Agência Brasil - Chegam as primeiras pessoas para a cerimônia de posse da presidenta eleita