terça-feira, 5 de julho de 2011

Por um instante apenas

Sobe a escada rolante, não como de costume - às pressas - mas, lentamente, com as mãos no corrimão, em pé, à direita. Enquanto isso, repara nos rostos, expressões, que descem. Um leva a mão à cabeça, sorri e desliga o celular; outro gesticula, enquanto fala sem parar; outras duas, atentas, fixam o olhar na escadaria, mas não escondem a atenção às palavras do moço palavreador entre elas.

Mais acima, um grupo inicia a descida. Cabeças baixas, sorrisos tímidos, conversas paralelas – ela não entende. Frustração. Pois o melhor de estar nos vagões do metrô, por exemplo, é poder ouvir o papo alheio, já que o tempo entre as estações não permite o deliciar-se com várias páginas do livro. Em meio à empolgação, ao delírio, a cada frase lida, o maquinista anuncia a próxima estação – é justamente a que se deve desembarcar.

Enxerga a grande avenida. Frio. O vento gélido torna os olhos úmidos e os lábios secos. Os cabelos voam, enquanto o casaco preto é apertado pelas mãos nos bolsos sobre o corpo. Olha para um lado, olha para o outro, não o vê. Estranho. Ele não costuma se atrasar. Entra novamente para o aquário de vidro. Para. Consegue enxergar tudo e todos. São muitos. Percebe os diversos olhares, as demonstrações de sensações ao entrar ou sair. Os risos e os choros. Seus olhos se movem cada vez mais rápido, e mesmo assim não consegue acompanhar, se perde.

Mais uma vez, olhar fixo na escada. Cinco minutos. Dez minutos e ela reconhece uma pontinha da blusa verde entre as milhares de pretas, vermelhas, azuis, brancas. Uma olhadela no corrimão e uma mão com dedos saltitantes, ferozes, também é reconhecida. Passam as blusas pretas, brancas, azuis, vermelhas... eis que a verde o traz. Um sorriso. Dois. Um abraço. Nenhuma voz. Nenhum ruído. Sentem, ambos, o pulsar dos corações. Por um instante parecem um só, as batidas se igualam e, assim, tornam-se únicas. Únicos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário