quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Miséria no nordeste

Ela está atrás de um muro. Desce e corre quando percebe o carro se aproximando. Ela me vê, enxerga a máquina fotográfica e passa a mão nos cabelos emaranhados e encaracolados. Segura-os por alguns instantes e os solta. Sai, caminha em direção a mãe que recepciona um homem que desce do mesmo carro onde eu estava. Ele tem sacolas nas mãos. Ela então me olha outra vez, levanta a alça da blusa azul desbotada e muito grande para o seu tamanho. Fixa o olhar assim que percebe que seguiremos e ela permanecerá ali. E, de longe, vejo-a sumir.

Esta cena se repete outras vezes por mais alguns quilômetros. Crianças saem de casa correndo quando percebem que o carro que leva seus pais ao centro das pequenas cidades acaba de trazê-los de volta. E eles quando chegam, quase sempre, têm sacolas nas mãos. Algumas casas são de barro batido. De fora, pela janela, enxerga-se o que seria a sala de estar. Dentro dela, uma rede de um canto ao outro. Em outras, uma rede e uma tv. Segundo os próprios moradores destas casas, as coisas melhoraram. E hoje, eles conseguem ter uma vida mais digna.

Nos últimos anos, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a taxa de pobreza no Brasil reduziu 0,9% por ano, nos governos dos presidentes Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva. As perspectivas do IPEA é que, até 2016, o país possa ter um índice próximo à de países ricos, caso cada estado matenha um ritmo de crescimento econômico diferenciado na redução da miséria.

De acordo com a ONG ActionAid, que analisa os esforços de 28 países para combater o problema, o Brasil, nos últimos dois anos, liderou o ranking de progresso na luta contra a pobreza. Segundo os organizadores, a fome foi realmente prioridade no país.

No entanto, ao percorrer alguns estados do nordeste brasileiro, custa-se a acreditar que isso realmente possa acontecer em tão pouco tempo.

O Maranhão, hoje governado por Roseana Sarney (PMDB) pela quarta vez, esteve durante muitos anos em primeiro lugar no ranking dos estados mais pobres do Brasil. Atualmente, perde apenas para Alagoas, 27,2% dos maranhenses vivem em extrema pobreza. Piauí é o terceiro, e Ceará ocupa a quarta posição.

Segundo o IPEA, em 1995, período referente aos governos de Edison Lobão e Roseana Sarney, conhecida como "a década perdida", o Maranhão tinha a maior taxa de pobreza absoluta, 77,8% seguido por Piauí com 75,7% e Ceará com 70,3%. A redução no indíce de extrema pobreza ocorreu entre os anos de 2003 e 2008, quando o Maranhão era governado por José Reinaldo Tavares.

Além de estarem nas últimas posições do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Alagoas e Maranhão têm o pior PIB per capita do país. Enquanto que seus governadores, respectivamente, Teotônio Vilela Filho (PSDB) e Roseana, são os mais ricos de todos os estados brasileiros.

Não é preciso procurar. Nas estradas, do Maranhão ao Ceará, ao passar por cidades como Barreirinhas, Paulino Neves, Tutóia e Parnaíba, no Piauí, percebe-se que a pobreza está longe de ser combatida. As pessoas vivem em condições precárias. O que se pensa ver apenas nos filmes, lá, se vê ao vivo.