quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Partidarização da mídia acirra fim de campanha

Veículos criticam “autoritarismo” do PT; movimentos sociais rebatem

Do Brasil de Fato

qui, 2010-09-30 17:26

Renato Godoy de Toledo
da Redação


A estratégia de ataques à candidatura de Dilma Rousseff (PT) no final da campanha gerou animosidade entre a mídia comercial, de um lado, e o governo e defensores da democratização das comunicações, de outro. Em duas oportunidades, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou a atuação da imprensa no processo eleitoral. Para o mandatário, alguns órgãos de comunicação agem como um partido.

Lula chegou a ironizar a revista Veja, referindo-se a ela como “uma revista que eu não sei o nome, acho que é 'Olha', se fosse no nordeste chamaríamos de 'Zoia'”.
A resposta da mídia veio em editoriais, artigos e até em um ato com cerca de 100 pessoas em São Paulo, que ganhou manchete no jornal O Estado de S. Paulo – o único veículo até o fechamento desta edição que declarou abertamente sua preferência por José Serra (PSDB).

Neste ato, ocorrido no dia 22 de setembro, algumas personalidades como o jurista Hélio Bicudo, dom Paulo Evaristo Arns e três ex-ministros de FHC criticaram uma suposta tentativa de cercear a democracia, por meio da “volta da censura”. Por outro lado, movimentos pela democratização das comunicações e centrais sindicais realizaram um ato com mais de 500 pessoas no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, no dia 23 de setembro.


A atividade foi convocada antes mesmo de Lula realizar criticas aos meios de comunicação. Os órgãos de imprensa chamaram o ato de “chapa-branca”, “contra imprensa” e “pró-censura”. Para os organizadores, a grita da mídia contra o ato foi fundamental para o sucesso do próprio, que foi convocado apenas pela internet.
Um outro manifesto criado por juristas como Márcio Thomaz Bastos (ex-ministro de Lula) e Celso Antonio Bandeira de Mello (professor da PUC) e Dalmo Dallari (professor da USP) afirma que o Brasil vive em plena liberdade de imprensa e não há porque temer a censura.

Sem indícios

Para o sociólogo do Núcleo de Estudos sobre Mídia e Política (NEMP) da Universidade de Brasília (UnB), Fábio Senne, não há nada que sinalize que o governo esteja flertando com o autoritarismo e com a censura. “As declarações do presidente podem ser criticadas eventualmente pelo tom utilizado, pela postura que entenda como adequada para um estadista diante do processo eleitoral, ou, num debate de mérito, se a visão que Lula expressa sobre a imprensa é a mais correta. De forma alguma, porém, vejo ameaças concretas à liberdade de expressão deflagradas por estas declarações, ou pelo conjunto das ações do governo na área da comunicação”, afirma.

Os críticos ao tratamento do governo dispensado à imprensa evocam o PNDH-3, a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) e a tentativa de criação do Ancinav (uma agência reguladora do audiovisual) como exemplos de investidas da atual gestão contra a liberdade de imprensa. “Do ponto de vista do conjunto das ações do governo Lula para o setor, não vejo ameaças concretas à liberdade de imprensa, como argumentam alguns colunistas e associações empresarias do setor. É possível identificar, claro, equívocos importantes do governo, como foi a tentativa de expulsão de jornalista correspondente do New York Times – erro assumido por integrantes do governo. Nos demais episódios frequentemente mencionados – como o debate sobre o Conselho Federal de Jornalistas (CFJ), a Ancinav, o PNDH-3 e a realização da Confecom – o debate público foi claramente vetado ou enviesado nos grandes veículos de comunicação, e não constituem, a priori, afrontas à livre expressão”, aponta Senne.

O sociólogo compara o caso brasileiro com o que acontece nos EUA, país cujo direito à livre expressão não é questionado pela imprensa brasileira. “Têm sido muito lembradas nesse momento, como ponto de comparação, as declarações da diretora de comunicações da Casa Branca, que no ano passado acusou a Fox News de atuar como 'braço armado do Partido Republicano' e afirmou que o governo tratará a Fox 'como um oponente'. Não vimos, neste episódio, o governo Obama ser taxado de promover atentados à liberdade de expressão”, ilustra.

Para o presidente do centro de estudos Barão de Itararé, Altamiro Borges, a imprensa no Brasil goza de plena liberdade e usufrui até de uma “libertinagem”. “Não há ameaça alguma à liberdade de imprensa. Em qualquer país do mundo uma revista que colocasse a foto do presidente com um chute no traseiro [como edição da Veja de 2006] sofreria um processo. As medidas que o governo pensou para democratizar as comunicações foram travadas. Não temos nem lei de imprensa, não temos nenhuma regulamentação do trabalho do jornalista que pode ser cada vez mais precarizado. [A grande mídia] não tem do que reclamar”, opina Borges, que foi um dos organizadores do ato do dia 23.


Mudança de postura?
Para Borges, o momento atual é o de maior acirramento entre o governo e a mídia. Segundo ele, Lula só foi afirmar no final de seu mandato que a mídia age como um partido – “antes tarde do que nunca”.

O jornalista afirma que há algumas mudanças importantes no segundo mandato de Lula e há boas sinalizações para um eventual governo Dilma. “O primeiro governo foi covarde diante da mídia. Cedeu em vários aspectos, num misto de ingenuidade e pragmatismo. Exemplo disso é a escolha do padrão japonês para a TV digital e o recuo na criação de um conselho nacional de jornalismo. Já a segunda gestão tem apresentado medidas interessantes, como a criação da Empresa Brasileira de Comunicações [EBC], a convocação da Confecom e uma nova politica de publicidade, que não deixa as verbas totalmente concentradas na grande mídia. Agora, sinaliza que há mais medidas a serem tomadas nessa área midiática. Quando ele diz que a mídia é um partido político, mostra que é necessário um novo marco regulatório para a área”, conclui.


2 comentários:

  1. Temos além da partidarização da mídia a religiosidade dos partidos.

    Tanta palhaçada e só se incomodam com o Tiririca.

    Acho parodoxal um analfabeto votar mas um analfabeto não poder ser eleito

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  2. Muitas palhaçadas, Diego. São tantas que não é possível enumerá-las. É inacreditável o que vimos e o que ainda vemos nessa eleição. Sem dúvida, será mais uma que entrará para a história. Temos uma democracia que não temos escolha. Somos obrigados a aceitar um candidato menos péssimo.

    E quem não se interessa e não pesquisa vota em tiriricas.

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