segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Por dentro do Mercado da Lapa

À procura de porangaba, colônia, peregum, folha de fogo, chapéu de couro, capeba, acocô, mão de Deus, gervão ou embaúba? Mercado da Lapa. É lá que encontramos tudo isso e muito mais. Temperos diversos, originários de várias regiões do Brasil? também tem lá. Peixe? Não há um só corredor sem um box com pacu, pintado, barbado, piranha, e claro, o bom e velho bacalhau salgado.

Além da variedade de produtos, o Mercado da Lapa também guarda alguns personagens. Como o sr. Ari. Não tinha intensão de conhecer a história desse vendedor de peixes. Era apenas mais um entre os que gritavam "bom dia, olha a castanha, moça!", "o que vai ser hoje, dona?", "olha, olha... aqui tem tudo pra sua feijoada!".

Sr. Ari tem 59 anos. E há 5 trabalha no Mercado. Tem uma aparência cansada. Homem pequeno, magro e baixinho, franzino.

Chama os clientes ao seu box, o Lucky 82, oferecendo receitas. Se ele sabe cozinhar? "Não. É apenas truque de vendedor", diz. Com um sorriso tímido, sr. Arí diz que não tem mulher. "Não penso nem em morar junto. Tô bem sozinho. Também não tenho filhos". Aposentado, trabalha apenas aos sábados. Vender peixes foi o que sempre fez em sua vida. "É o que eu sei fazer. Só isso". Durante a semana encontra os amigos, dá voltas pela cidade e volta para casa, sozinho. "Me acostumei a viver só. Eu me viro, moça. É melhor assim".

Entre uma pergunta e outra, sr. Ari olha para o sr. Marcelo, o dono do box. "Sabe, você não veio num dia muito bom, sábado aqui é muito cheio. Bom mesmo é na semana". Sr. Ari rasga um pedaço de papel e embrulha o peixe como se fosse um presente e entrega a sua cliente, diz obrigado, e fala: "é assim, a gente tem que ser bom no que faz senão fica desempregado."

Caminha de um lado para o outro com as mãos nas costas, dá bom dia a quem passa e oferece ingredientes para uma feijoada. "Caro? mas é bacalhau direto de Portugal!", fala a um outro cliente.

Além de arriscar umas dicas de receitas, sr. Ari oferece temperos. Descreve como ficará a textura do bacalhau se cozido com leite de coco. Quem leva a mercadoria acredita no que diz.

Sr. Ari é apenas um dos muitos personagens do Mercado. Que esconde em cada canto histórias diversas e curiosas. Basta uma volta para ouvir o tintilhar dos grãos sendo despejados nos sacos plásticos e jogados na balança. Mais uma volta e percebe-se uma variedade de aromas indecifráveis.

Sair do Mercado da Lapa sem uma sacola na mão é praticamente impossível.

2 comentários:

  1. Ai ai... o jornalismo literário!!! Fui até o mercado da Lapa e voltei agora. rs!!

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  2. Jornalismo literário é o que todos os jornalistas deveriam, pelo menos, tentar fazer todos os dias, Fran. Mas eles (nós) não têm permissão para isso. Triste.

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